sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Relógio

"Ventos de Poesia"
Sou o relógio embutido,
na torre da igreja,
da Santa Casa da Misericórdia.
Remonto três séculos passados.
Rodei os ponteiros e li o tempo.
Fui um ícone na História.
O relojoeiro que me concebeu,
dotou-me de um carrilhão.
Toquei de quarto em quarto de hora
e na diferente hora.
Trabalhei com precisão!

Nesse tempo, eu era outro...
Já não sou aquilo que era!

Chamei a culto, os fiéis a Deus
e na saída das procissões.
Registei horas a nascidos e finados.
Dei horas de angústia e felicidade.
Contei horas para monarcas
e outros brasões do passado.
Toquei nas rebeliões.
Vivi glórias e derrotas,
das quais já não há memória!

Os tempos são outros...
Já não são aqueles que eram!

Vim do passado, sempre rodando.
Pelo Homem, fui traído.
O meu coração foi trocado, sem dó ou piedade,
por outro... A electricidade movido.
Dou um toque ao quarto de hora.
Aumento um até chegar a hora.
E quatro toques na hora civil.
Trabalho das oito horas às
Vinte e duas.
Das vinte e duas às oito,
no silêncio sou confundido,
com um relógio senil!

As gentes são outras...
Já não são aquelas que eram!

Raízes M/Peniche



20 comentários:

  1. As recordações de tempos áureos são angustiantes. Temos saudade do passado e dos típicos monumentos e suas formas de comunicar e anunciar a sua presença. Este relógio está como tantos outros. Tal como os velhos moinhos esquecidos. Que site esplêndido que nos eleva a alma!

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  2. Eis mais uma preciosidade.

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  3. Sofia Melo09/04/10, 19:35

    Eis um texto com cabeça e inteligência. O autor/a colocou-se muito bem na “pessoa” do relógio. Ao personificar um relógio magoado e entristecido manifesta antagonismo ao egoísmo das pessoas e às suas mesquinhices constantes. O que tem valor perde valor e o que não presta sobe nas cotações pessoais.

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  4. Saudoso relógio! Saudoso!

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  5. Sim senhor que bela lembrança!

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  6. Quantos relógios estão assim, e as velhas igrejas, moinhos, monumentos? Tudo. O homem parece de consumo rápido e de novidades. Basta o que é efémero e o que se traduz no maior ateísmo. Os sentimentos não prevalecem e os princípios ficaram atrás escondidos. Este relógio está claramente a demonstrar a ingratidão humana face ao que nos deixa história, quer em momentos quer em valor patrimonial. Hoje tudo incomoda, se possível até um Ave-Maria em melodia de hora. Talvez sejam melhores os sons estridentes das músicas electrónicas e cheias de vazio que temos a grata pachorra de escutar. Parabéns pela chicotada!

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  7. Adoro os sons do relógio. Ponham estes sons 24 horas por dia. Não me incomoda nada.

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  8. Gosto muito das coisas deste Blogue. Já tem um fio condutor e sabemos que gostamos, mal começamos a ler. Parabéns!

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  9. Sem dúvida imperdível. Uma composição brilhante e apaixonante até.
    As coisas boas das nossas vidas perdem a piada quando se tentam mexer em favor do conforto humano. A tradição já não é o que era. Parabéns pela defesa de valores e tradiçãoe sempre tão bem expressas neste Blogue que é um autêntico tesouro!

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  10. António Alves10/04/10, 19:32

    Estou de acordo com a minha eterna companheira de comentários neste Blogue. Sempre que surge algo de novo lá nos vamos comunicando. Sendo que neste momento este é o nosso Blogue de eleição, porque recentemente não surgiu nada de novo e tão bom na internet.
    Este é mais um muito do meu agrado porque toca na ferida das mesquinhices. De facto, hoje o povo é outro. Valorizamos outras coisas, mas é muito saudável estas coisas virem a lume e serem debatidas com ampla liberdade como acontece aqui. Valeu a pena.

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  11. É terrível termos que reparar nestes pormenores. De facto muito se perde e muito se modifica e depois temos muitas saudades pois tudo o que se mexeu perdeu a graça e a sua originalidade. Não temos gosto e em prol do conforto perdemos o essencial. Até Cristo perdemos de vista e depois acontece o sucesso que este Blogue tem porque se recorda e fala de coisas que se foram perdendo. Tal como os dias de…
    Este é um belo texto. Parabéns ao autor/a.

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  12. Gostei pela lembrança. Eu preciso de dormir, mas penso que o relógio não me impediria de o fazer, mesmo porque na minha terra existe um que toca de meia em meia hora. Já me abituei. Acho que já estranharia se não o ouvisse.

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  13. Margarida Rebelo10/04/10, 19:36

    Livros! Livros! Livros!
    Quantos e bons não seriam escritos se as editoras não estivessem neste momento tão fechadas.
    Crise! Crise! Crise!
    Esta é, tristemente, a palavra de ordem.
    Continuem. Mostrem. Esta é a maneira de valorizar o vosso talento. E que talento!

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  14. É uma emoção passear por este Blogue. A sondagem já votada por mim. Sim evangelizador e muito. Olhem para estes poemas, textos e esta musica tão linda. Sim sou cristã e De colores diz-me tanto e muito. Chorei ao abrir este Blogue cerca das 14 horas e até agora que são 19.45 ainda não parei de viajar por ele. Já o adicionei. Já fez um ano e só hoje o descobri. É lindo! Lindo! Lindo! Força! Muita força desta é preciso para tornar a humanidade bem melhor e faze-la com as palavras abrir o coração a Cristo e Maria que nos conduz até ele. PARABÉNS!!!!

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  15. Que surpresa abrir e ouvir esta música De Colores e depois descobrir páginas e páginas de pura alegria cristã. Vida em amor e Deus!

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  16. Bendito carrilhão que não carrilhas mais.

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  17. Afinfa-lhes. Povo retrogrado.

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  18. A tradição já não é o que era.

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  19. Tozé amigo de Peniche17/04/10, 13:16

    Está soberbo. Um poema a Peniche e todo o portugal.

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