quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Cristo Ressuscitado

"Mágica Maresia"


Não era um dia como tantos outros, no Museu Nacional. Esperava-se uma grande azáfama pois tinha sido recebida a magnífica obra que tinha ganho o prémio do ano, e que passaria a estar exposta por oferta do seu criador.
Raul jamais pensara que aquele Cristo Ressuscitado lhe devolvesse o reconhecimento do público numa hora tão difícil da sua vida. A doença da sua filha tinha sido ultrapassada e como agradecimento nasceu no seu âmago, a vontade de criar uma escultura do Cristo Ressuscitado.
Em tons de esperança, de braços abertos, expressão de ternura e com olhar de uma felicidade vitoriosa, suscitou as mais variadas atenções, conquistando assim, o prémio mais desejado e que inundou o seu criador de felicidade.
A cerimónia de apresentação da obra decorrera da melhor forma possível. Muito público, ávido de conhecer esta, tão, famosa obra.
Dia após dia o seu autor dirigia-se ao Museu, nunca esquecendo de visitar o motivo do seu contentamento. Era sempre recebido com um simpático sorriso.
- Bom dia Jerónimo. Cá estou de novo.
- Bom dia Sr. Raul. Nunca esquecemos os nossos filhos. Retorquiu o porteiro do Museu.
Aproximando-se do seu Cristo, mantinha diariamente, um diálogo com ele.
- Olá meu amigo. Aqui estou de novo. Não posso deixar de te visitar, minha obra muito amada! Se pudesse, levava-te comigo, mas seria egoísmo meu, privando os outros de te visitar. Sei que ficas feliz por me ver e sei que isso significa para ti, ausência de esquecimento.
O Cristo parecia transparecer contentamento por não ser esquecido pelo seu criador.
Com o passar dos anos, as visitas de Raul foram-se tornando menos assíduas. Primeiro passou a visitar a sua obra dia sim, dia não, e depois o espaço de tempo entre as visitas foi-se alargando. As imponentes escadarias do Museu não eram possuidoras de contemplação para com o avanço da sua idade. As árvores, outrora mágicas de cor e libertação de perfumes inesquecíveis, hoje pareciam-lhe pesarosas e algo rudes, trazendo-lhe duras saudades da sua juventude.
Um certo dia, já muito cansado, abeirou-se tristemente da sua obra.
- Meu caro e fiel filho muito amado. Estou vencido pelo cansaço. Sei que tenho vindo menos vezes, sinto-me sem forças. É difícil chegar até aqui. Não fiques triste! Quero que saibas que foste muito importante para mim e que nunca te esquecerei. Quanto ao resto sei que continuarás a ser visitado e amado por todos e que jamais te poderei agradecer por continuares a divulgar o meu nome. Sentirei saudades de ti, afinal eu partirei e tu ficarás sempre!
Cambaleando e com dificuldade conseguiu abraçar-se à sua obra perante o olhar comovido do porteiro.
Os dias foram passando e Raul não mais voltou ao Museu. O Cristo permaneceu de braços abertos impávido e sereno, muito embora, com uma aparente tristeza. Talvez com saudade do seu dono que nunca mais o visitou, talvez sentindo que o que nos faz feliz é o laço que nos prende e amarra ao nosso próprio criador.
A vida vai passando e as nossas obras ficam. O espelho das nossas vidas e o que resta delas é aquilo que fomos e que deixamos como recordação.
Se fizeste uma boa obra deixaste uma marca positiva para todo sempre.
Se criaste no amor, o teu amor prevalecerá!
Para sempre seja louvado o amor deixado pelo nosso criador! Revendo-se em felicidade, Jesus Cristo! Nosso Senhor.

Paulo Gonçalves

60 comentários:

  1. Que história! Meu Deus! Eu senti-me emocionar para este retrato de vida. Esta é uma demonstração do que se passa e nós vivemos quase sem dar por isso. Peculiaridade muito acentuada e típica deste contador de histórias e sonhos e que contador. Um conto cheio de alma e de amor. Lindo! Lindo! Lindo! Acabei o conto com uma belíssima nostalgia incutida no meu espírito de uma forma subtil e bem conseguida. Simplesmente deslumbrante!

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  2. Nem tudo o que se lê nos toca, e quando toca em profundidade é ainda mais raro. Este é um caso em que mais uma vez fui tocado e em profundidade. Paulo tens uma capacidade em transmitir emoções escondidas e traze-las à tona. Este conto é uma obra de arte. Ninguém consegue ficar indiferente a esta transmissão de tanto sentimento. De facto a vida vai passando e nós agarramo-nos aos momentos em que somos felizes e um dia mais tarde vivemos com saudade deles. Este amor demonstrado através da relação entre o criador da obra e aquele Cristo é tocante e impressionante, mas isto acontece! Está lindo! Está divino! Está sublime! Emocionei-me e outra coisa não seria de esperar. Que belo livro escreverias. Dá gosto ler algo assim. Um abraço em Cristo!

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  3. Toze Amigo de Peniche15/04/10, 20:13

    É uma honra viver e ser de Peniche. É igualmente honroso saber que existem talentos nesta terra que são de bradar aos céus. Este Blogue é de facto, impressionante. Muita qualidade em tudo e este conto não é excepção. Está nostalgicamente belo, muito bem escrito e com uma história que tem muito de real. De lágrima insistente no canto do olho comento porque me tocou por ser tão bom. Saber escrever é uma sabedoria. Transmitir o que consegues é um dom. Parabéns!

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  4. Ligia Martins16/04/10, 13:40

    Está um conto lindíssimo. Só sei que chorei!

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  5. Sofia Melo16/04/10, 13:40

    Já repararam na categoria de conto que está aqui. Caramba! Que coisa linda! Que imaginação. Que sublime! Nem tenho palavras, já li e reli. Olha que até chorei de emoção, parecia que era eu que sentia aquilo na pele. É triste mas lindíssimo! Não deixa de ser algo com que nos identifiquemos, quer por sentimento, quer por apego às nossas memórias. Toca aí e passa por aí. Bem inteligente.

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  6. Susana Alves16/04/10, 13:41

    Quem tem espírito para escrever uma coisa destas tem tudo o que precisa. Não precisa de provar mais. Construir uma história assim, uma história que tem tudo, não precisa de mais provas. Eu tenho uma predilecção por este tipo de histórias. Está lindo. Uma focagem perfeita do que é o ser humano perante a vida. Tal como eu. Tal como tu! Brilhante!

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  7. Brilhante puramente brilhante! Este conto transportou-me a um mundo de nostalgia e fez-me senti-lo de uma forma muito especial. Muito bonito! Parabéns!

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  8. Eis uma demonstração do que é contar uma história de forma correctíssima. Tem tudo. É real, pensa no humano e traduz um saudosismo que é inerente a todos nós. Como sempre perfeito e bem construído. Reflexão seja feita a tudo isto porque depois de se ler algo assim ninguém ficará indiferente. Eu como ser humano que sou, tenho destes sentimentos. É importante reflectir neles. É importante pensar no que somos e para que vivemos! Numa só palavra, está genial!

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  9. António Alves16/04/10, 17:00

    Confesso que fiquei surpreendido assim que vi o título do conto deste mês no conto passado. Fiquei curioso e imaginei que tivesse algo de cristão relacionado com a Páscoa. Não deixa de estar, mas jamais imaginei uma história destas. É plena! É rica! É única! A tua lembrança em relação a alguém que criou. Um artista, se calhar, sentes o mesmo em relação ao que escreves.
    Está fenomenal e leva-me a dizer a quente, é o conto que mais gostei até hoje, muito embora tenha gostado muito de todos, este tem uma forma de sentir que provém desse teu, grande coração. Amor! Amor! Amor! Foi o que senti quando li. Esse amor que tu puseste nesta bela imaginação que tu tens! Fantástico até eu gostaria de ter esta lembrança.

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  10. Este conto está muito bonito!

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  11. Este conto deixou-me com os olhos a lacrimejar.

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  12. Que conto tão bem feito e pensado.

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  13. Margarida Rebelo16/04/10, 19:51

    Escrever, muitas vezes, significa dar algo com um cunho muito pessoal. Este conto transmite isso. Este autor é simplesmente magnífico. Estou maravilhada com o que li. Não sei do que mais gostei: Se da história, do sentimento, da maneira como foi escrito ou da fenomenal maneira como foi pensado. Está eminente a transmissão de uma mensagem que apela e descreve uma linda relação com um objecto de arte que foi criado pelo protagonista da história.
    Os momentos áureos e a decadência natural do ser humano confrontam-nos com a nossa própria fraqueza humana e torna este conto em algo de brilhantemente extraordinário.
    É sem dúvida um pensador que aplica as suas ideias e histórias de uma forma extraordinária.
    Posso dizer que depois de ler este conto de eleição, não consegui deixar de sentir uma profunda nostalgia, e isso meu caro, já é muito difícil de eu sentir quando leio algo. Quero dizer com isto que o que publicaste aqui é algo de muito, mesmo muito bom e especial!

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  14. Marta Leni17/04/10, 13:08

    Escrever não é para todos. Ser contador de histórias também não. Esta está puramente espectacular. Tenho vindo a aguardar pela continuação dos teus contos pois gostei muito dos primeiros dois e depois do Perdido. Agora concluo o meu estudo. Tu, de facto, escreves divinamente bem, sem oscilações e com uma nuance muito característica. Todos acabam por gostar, facto que me leva a pensar que um dia que escrevas um livro sejas projectado com facilidade para o sucesso. Parabéns! Alguém dizia aqui, que estava brilhante eu digo mais. Está e estás cheio de luz!
    Marta Leni (Hist.)

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  15. Hoje levo frequentemente o computador para a cama para ler o Blogue. Estou a lê-lo todo. É o meu livro. Este conto está muito bonito.

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  16. Fantástico como sempre!

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  17. Grande conto. Está o máximo.

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  18. Poxa cara! Cê me fez chorar! BRRRRRR

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  19. Eu não tenho palavras para as tuas invenções!

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  20. Uma história genial em que o relacionamento do criador tcom a sua obra se reveste de amor infinito, algo semelhante ao amor pelo homem.
    É nas coisas unas que se encontra o verdadeiro sentido de amor. Estes contos sao extraordinários.

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  21. Um conto de ir às lágrimas.

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  22. Esculástica18/04/10, 20:28

    Grande e belissimo conto.

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  23. Está lindo demais!

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  24. Elisangela18/04/10, 20:30

    Está tão impressionante e belo.

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  25. Está muito bonito.

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  26. Nem tenho palavras. Adorei ler este conto.

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  27. Que coisa tão bonita.

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  28. Está único e bonito. Fez-me chorar ao lembrar que fazia barquinhos para vender na praia. Que grande sensibilidade. Parabéns!

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  29. Adorei. Está tudo dito.

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  30. António Falápio21/04/10, 18:14

    É das coisas mais bonitas que li últimamente.

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  31. Eu também considero das coisas mais bonitas que recentemente li.

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  32. Um texto sublime e muito cuidado.

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  33. Que lindo e emocionante conto.

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  34. Gostei muito.

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  35. Teresa Maria29/11/10, 20:14

    Um conto lindíssimo!

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  36. Este conto está simplesmente divino. O amor à arte, deste homem, levou-me às lágrimas. Muito bonito.

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  37. Linda e emocionante história.

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  38. Entrei neste conto através do top. Está lindo!

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  39. Um conto lindo!

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  40. Grande conto e muito comovente.

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  41. Não me canso de elogiar este conto.

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  42. Grande criador de belas histórias.

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  43. Henrique Mendes14/05/13, 19:21

    Este conto é lindíssimo.

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  44. Angelina Carmo28/03/14, 20:38

    Maravilhoso conto que me emocionou e me fez chorar.

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  45. Angelina Carmo28/03/14, 20:39

    Muito bonito dá gosto ler os teus contos. Escreves muito bem e és um contador de grandes histórias.

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