Poesia

AVE DE ABRIL


O céu era cinzento,
opaco,
cor de chumbo
e nem uma aragem bulia
entre a ramagem bravia
onde um pássaro 
tonto se quedava,
de olhar perdido
na melancolia parda
daquele Março em agonia,
que o Inverno
teimoso, acompanhava.
A minha mente
lenta, como o tempo, sente 
calada a esperança
nela adormecida.
E, incapaz de falar, lembra
com olhar dolente
àquele pássaro 
tonto, inocente
que Abril está perto.
O sol raiará,
haverá luz,
flores e ar.
Poderá chilrear,
acasalar,
reproduzir-se, viver, 
emitir os sons
que ele quiser,
quando Abril vier.

Helena Marcão........1975


Minha Pura Divagação!

Penosos caminhos cruzados
Nos recantos da provação.
Em União revelados,
Os laços do coração.

Sorvo o vento!
Sorvo o mar!
Sorvo a magia,
Desse teu olhar!

Maresias sopradas.
Entrelaçadas no vento!
Nas brumas, reveladas.
Recantos do pensamento!

Constante persistência!
Saudades rendidas.
As ondas salgadas,
São lágrimas sentidas.

Paulo Gonçalves




Nascera!

Nascera naquela,
Já longínqua maresia.
Mal teria imaginado,
O que a vida lhe traria.
Num cesto de verga,
Mão cheia de alegria.
Ou não fosse o facto,
De ter nascido nesse dia.
Despercebido nascimento.
Ou quiçá às escondidas.
Vincando o seu firmamento.
Conquistando novas vidas.
Seu horizonte agarrou.
O mundo abraçou.
Em sabedoria cresceu.
Com tudo o que Deus lhe ofertou!

Paulo Gonçalves


O MEU BEIRAL

O luar mesmo à tardinha,
Se agiganta ao meu beiral.
A passarada rodopia.
Num tom celestial!

Quem me dera, assim voar,
Numa cantinela singela.
Com sons mansos de embalar,
A cantoria mais bela.

Adormeceu já, o sol!
Reina a prata e o frescor.
No meu beiral, tao belo.
Sonhei com o teu meu amor!

Dois corações, duas vidas.
Dois percursos de saudade.
No meu inesquecível beiral,
Somamos felicidade!

Paulo Gonçalves





A quem tanto amo...

Meu Sopro de Vida

Minha alma, céu aberto!
Meu corpo, também.
Renasce quando estás perto!
Meu horizonte de além.
Guardo-te em mim.
Do sol-pôr ao amanhecer.
Floresça luz em ti!
Fazendo o meu dia nascer.
Meu clamor! Meu clamor!
Minha terra florida.
Transborde em mim, o teu amor!
Meu eterno sopro de vida!
Paulo Gonçalves

Ternos Silêncios

Ternos silêncios, vividos...
De felicidade, explanados!
Sussurra-me aos ouvidos...
Os nossos sonhos guardados!
Paulo Gonçalves

Brado!
Diz-me!...Diz-me de ti!

Sim! Tu, que questionas, que duvidas sempre e que ousas não confiar!

Fala-me!... Fala-me de ti!

Conta-me das vezes que perdes a cabeça, que blasfemas e dizes que ninguém te dá guarida.

Sim! Plasma todo o teu sofrimento, toda a tua angústia e chora de dor!

Soluça e esperneia, por não veres satisfeitos, os teus caprichos!

Grita! Suplica! Dá ordens! Isso! Faz-te dono e não patrão! Faz-te arrogância, gestando escravidão.

Vai! Vai destilando veneno, bradando aos céus toda a tua insatisfação.
Mas pára! Não esqueças que podes falar, gritar, chorar, manifestar..
Então chora!...Chora porque não tens razão!
Chora! Porque podes tudo!
Chora! Porque nada te é motivo, nada te acontece!
Então... Diz-me!
Fala-me! Fala-me de ti!

Paulo Gonçalves
Minha Saudosa Janela

Saudosos momentos vivi.
Naquela janela Norte
Vi caras rudes, caras alegres
E senti o vento forte.
Os telhados tão velhinhos.
Crianças a brincar.
Uns portões de entrada,
Alimentaram o meu sonhar.
Dali também vi,
Igreja onde me baptizei.
Foguetes daquela festa
Que sempre adorei.
Emoções que senti.
Alegria bem forte.
Sonhei… como sonhei…
Naquela janela Norte!


Paulo Gonçalves


MARIA


Ave-maria
Mãe puríssima e bela!
Coração cheio de amor.
Que me conduz a Nosso Senhor.
Mãe! Minha mãe!
O quanto me tens amado!
O quanto me tens demonstrado!
O quanto tenho conseguido…
Com a tua mão protectora
Com o teu cuidado em me conduzires
Pelos caminhos da vida, não me perdi…
Por ti… Por ti…Por ti…
Que sempre me guiaste
E eu sempre te ouvi…
No bater do meu coração
Senti o pulsar do teu…
Quanto do que faço é tão pouco,
Para agradecer o teu amor.
Amo-te muito, minha mãe…
Que tão bem me levas a teu filho…
Nosso Senhor.
Paulo Gonçalves



Grito


Evangelizou! Evangelizou! Evangelizou!
A esta terra se entregou!
Amou! Amou! Amou!
Caminho imortalizou!
Sua palavra… amor!
Seu amor este povo.
De Cristo vinha…
O seu mandamento novo.
Entrega sem fim.
Jamais esquecerei
Aquelas tuas palavras
Que na minha vida apliquei.
Olhar cheio de Deus
Paz na sua mão
A santidade de um homem
Com Maria no coração.
Dos meus olhos rolam lágrimas
De tristeza e emoção
Na casa do pai se encontra
Motivo de minha consolação.
Este povo jamais te esquecerá…


A Monsenhor Bastos, um santo homem, que muitas vezes me deu força, quando, jovenzinho, me sentia tantas vezes, pequenino.
Paulo Gonçalves


Nossa Senhora

Eu tenho uma estrelinha
Que brilha! Brilha…
Num cantinho do céu
Estrela tão minha
Está entroncadinha,
Num manto de luz
Que quando se avizinha
A Deus me conduz.
Candeia de mãe,
Que o mundo ilumina
Corredor de amor
Para vida divina.
Paulo Gonçalves

INGRATIDÃO

De canastra à cabeça
Longa e dolorosa caminhada.
Filhos e trabalho em primeiro lugar.
Sacrifício permanente para nada faltar.
Força e vontade de vencer
Vida humilde e desregrada
Não baixou os braços, mesmo cansada.
Na hora da refeição, terrina partilhada.
Muito melhor, menos loiça lavada.
Os filhos, sua cegueira,
Amor sem fim para dar
Um punhal atravessado na alma,
Quando o retorno teimou em chegar.
A solidão rondou o seu caminho.
Seus netos fizeram o sol raiar.
Em abandono viveu.
Depois de tanto trabalhar.
Num repente, uma ânsia de mudar.
Os seus sonhos entregou, para a maresia levar.
Naquela praia sozinha,
Estava cansada de batalhar.
Naquela praia sozinha,
Já não precisava de lutar!


Em memória de uma grande mulher
Maria C.


Paulo Gonçalves





Silêncio

O Silêncio da minha voz
Que foi amargo entre nós
Para não saberes o que eu sofria

Sofria a dor da indiferença
A amargura da tua presença
Aumentava dia a dia
A voz que não ouviste
Nas palavras de amor que pediste
Também calei meu coração
Meu sorriso se fechou
Meu coração o amor matou
Para não sofrer desilusão
O silêncio da minha voz
Voz que não ouviste
Eu calei
Calei palavras de amor
Para não ouvires
Ouvir não pudeste
O que eu pensei



Conchita




Barco de papel


O meu barco de papel
De simples papel castanho
Fazia de mim um marinheiro
A navegar num oceano
Nas poças de água da chuva
Desfazia algum sabão
Um tubo de papel soprava
Nascia a minha ilusão
O meu mar tudo tinha
Espuma e ondulação
Rochas e areia fina
Era grande a emoção
Marinheiros imaginários
Embarcaram no meu barquinho
Transportar felicidade
Eram sonhos de menino
Tanto o barco foi à água
E tanto que se molhou
Acabou por sucumbir
Que por fim naufragou
Tive um barco de papel
Naveguei em mansas águas
Não pude ser marinheiro
Não apago as minhas mágoas

G.Jesus



Rosas

Grande é o ramo de rosas
Que o meu canto vai ilustrar
Sua candura enobrece a escrita
Onde a minha pena vai cunhar
Suas pétalas folhas do livro
Onde contos vão narrar
Recordações da alma escritas
Seu perfume vai titular
A folhagem das minhas rosas
Mesmo marcadas pelo tempo
São brochuras que vão guardar
A raiz do pensamento
Alguém irá estas pétalas folhear
Mesmo sendo num lamento
Para que as minhas memórias
Não morram no esquecimento



Raízes M / Peniche







Destino Cruel


Ao ser maior

Ao ser mulher



Toca o despertador
São seis da manhã
Maria levanta-se num grande afã
Depois da noite mal dormida
Prepara para a família, a comida
Mal consegue almoçar
Pois tem que na ribeira estar
À hora marcada para trabalhar.
Recebe poucas moedas
Dá para, os filhos, a fome matar
As lágrimas do rosto
Consegue enxugar
Chega a casa de rastos
Tem bebedeira para aturar
Deita-se na cama
Completamente arrasada!
O marido não quer
Saber dela para nada
Tem que dormir
A labuta volta de madrugada.
Destino cruel
De mulher mal amada

Paulo Gonçalves



À Cármen



Chave do reino
Para a família cuidar
Sensível, humana
Maria no lar.
Fortaleza divina
Lhe foi concedida,
Grande alegria
Dá sentido à minha vida.
Um porto seguro
De amor vindouro
Dou graças a Deus
Por lhe dar este pelouro.

Paulo Gonçalves



O SONHO

Sonhei, sonhei contigo
Já não havia guerra
Fome também não
Já não havia poluição
O mundo caminhava na tua mão
Os rios voltaram a ter água cristalina
O mar abundava de vida
Brincavam felizes, as crianças
O homem partilhava tudo sem egoísmos
Na humanidade não havia abismos
O respeito reinava numa só nação
Os seres humanos eram todos iguais
Não havia discriminação
Tu governavas o mundo
E chamavas-te Jesus Cristo



Paulo Gonçalves



Turbilhão

Sinto vezes sem conta
Ser difícil chegar a ti.
Entender o que não é entendível.
Esvaziar-me de mim e desesperar-me.
Caminhar na verdade tantas vezes incontornável.
Sorver a dor tão aguda e profunda.
Amargar em dúvidas e sentimentos.
Revolta sentida, calvário penoso e tenebroso.
Desespero em desejo de paz e amor.
Quero viver e morro!
Quero sorrir e choro!
Como grito por ti!
Como já não imploro.

Paulo Gonçalves



A voz do mar



Mar…Porque ruges ?
Se és tão forte
E nada tens a temer!
Será algo que não possamos saber?
Mar lindo que meus olhos encantas.
O teu azul cor do céu.
O teu verde de esperança.
O branco das tuas ondas
Me parecem um véu
Mar…Não te queixes!
Mar…Tens o calor do sol
O espelhado da lua
E a companhia dos peixes
Mar…porque gemes?
Diz-me a razão do teu clamor
Na crista da tua onda
Saem salpicos de lágrimas de dor
Mar não me respondes…!
Já percebi o teu temor
Avistas ao longe no horizonte
Aquele rochedo. E julgas ser
O gigante Adamastor

Raízes/M. Peniche

A casa do eco
Era térrea e muito bela.
Guardo a saudade em mim.
Fui feliz, dentro dela.
Jamais terei outra assim.
De parede branca, fina e pura,
Como a pétala da mais bela flor,
Tão grande era a sua lisura.
Como alvo o seu interior.
Tinha duas janelas vidradas.
Delas cintilava um azul... Celestial!
Parecia uma luz, enviada do céu.
Pintada num Santo vitral!
Cor purpúrea, finamente desbotada.
Aquela porta, de estranha dimensão.
Estava aberta… Sem fechadura.
Semelhante, a um coração!
As telhas eram finas e escuras.
De feitio ligeiramente ondulado.
A chuva e o vento as esmaeceram.
Espelhavam da lua o prateado!
O som que emitia era belo.
Eco, que do tempo vem.
Vindo de suas entranhas.
O grito quando nasci…MÃE…!

Raízes M / Peniche





HOMEM DO MAR



Homem do mar
Com tão imponente altura
Carregas no teu regaço
Retratos de vida dura
Tua aparente rudeza
Deu-te o mar por destino
Um velho lobo-do-mar
Com coração de menino
Na brisa prevês os ventos
Nas estrelas a acalmia
Prevês os vendavais
Da escuridão fazes dia
És homem e pescador
Viajante e marinheiro
Pioneiro e descobridor
Nas aventuras guerreiro
Do mar fizeste teu leito
Das ondas tua almofada
Do vendaval o desafio
De voltar à mulher amada

Autor Raízes M/Peniche

Mesmo velhinho
Já era tão velhinho
Que à janela, mal assomava
À noite, saia para sentir
De onde o vento soprava
De olhos postos no céu
O seu corpo rodava:
Em jeito de oração
Com os seus botões falava
-Está nortada fresca…!
A rosa-dos-ventos rezava
Temente pelo vendaval
Que tantas vidas ceifava
Logo ao romper da aurora
Ao Cabo Carvoeiro rumava
Sem temor pelo temporal
Sentado na rocha, esperava
As meninas dos seus olhos
Um por um, os barcos contavam
-Ah…! Conseguiram! Já passaram!
Então o velho pescador descansava!
-Ah…! Arribaram

Raízes M/Peniche


Caminhada

Caminho à deriva ao sabor do vento
Tão presente e ausente como eu
A ele peço que me açoite
Lembre que o meu corpo não morreu
Estou vazia, só e triste
Que dor retenho no meu peito
Meu grito de dor é forte
Lembra-me que o coração existe
Se tenho sede não há água
Se tenho fome não há pão
No mar uma jangada de seda
Para minha salvação
Tudo isto é sonho, dor e pesadelo
Ando sem rumo nem norte
Só ao sabor do vento
Tenho sede que flagelo
Tenho fome não há pão
Sentir que me afogo
Que tormento!

Conchita





O Cálice
Bebi do cálice, vinho doce.
Inebriado de felicidade fiquei.
Palmilhando caminhos de esperança,
com árdua vida alcancei.
Os sonhos mais felizes a paz e o bem.
Depois veio a tempestade e tudo varreu.
Restou a força e o alento.
Conforto de alguém que sempre me olhou.
Neste descontentamento, o contentamento,
de um raio de Sol que me penetrou.
Do mesmo vinho doce, voltei a beber,
E hoje inebriado de felicidade, estou!



Paulo Gonçalves



Família económica.

Andava a Maria Augusta,
Numa azáfama desgraçada.
Pois para o almoço não tinha nada.
Entre alhos e cebolas,
Pensou numa caldeirada.
Como peixe não havia
De nada, estes serviam.
- E que tal uma salada?!
-Toda bem ornamentada.
…Mas legumes, não havia.
Vamos mas é comer melancia!
Que raio de vida malvada.
Sobra mês ao ordenado!
Estômago cheio? Nem vê-lo!
Aperta-se o cinto mais um bocado.
Com sorte ainda vou ser modelo!



Paulo Gonçalves


O Meu Céu



O meu céu é azul.

Em dias de sol brilhante.
Perdura em dias de mágoa…
Um manto de nuvens constante.
O meu céu é reflexo,
Espelho da minha alma
Sentimento permanente
Que inebria e acalma!
Ao meu céu imploro!
Em plena oração.
O encontro de luz.
Um refúgio de emoção.
No seu imponente Arco-íris
Tenho um mágico baú de saudade.
Salpicado com gotas de chuva
Caminho de eternidade.
Paulo Gonçalves








MEU PENICHE

Formoso Peniche meu
Tão diferente,
Te vejo e vi,
Vês-me agora e viste.
Turvo te vejo a ti,
Tu a mim triste.
Claro te vi eu já.
Tu a mim contente.
Lá virá então a fresca Primavera,
Tu tornarás a ser quem eras antes,
Eu não sei se serei quem antes era.



Paulo Gonçalves





Ao Diogo



Anjinho de luz
Minha alegria
Fazes quatro anos
Pedi-te a Maria
Sorriso tão lindo
Que Cármen me deu
Mulher que eu amo
E que Deus me ofereceu
A vós agradeço
Jesus e Maria
Por ter visto nascer
Meu filho neste dia.



Paulo Gonçalves





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