quinta-feira, 4 de abril de 2013

AQUELE DIA


“Mágica Maresia”


Transportava consigo uma mágoa que lhe apertava o peito e que transformava os seus dias em dias um pouco mais amargos;
Lembrava os seus tempos de infância e das brincadeiras que eram momentos de alegria e que foram sempre inesquecíveis, isto até um certo dia:
O seu pai ia todos os dias para o mar e como detestava ser acordado pelo despertador lá lhe incumbia de o despertar a tempo de se apresentar para a sua faina diária, ele fazia isso sempre com muito gosto e lá ia sempre com uma hora de antecedência chamar o seu pai.
Estava uma bela tarde e não abdicou daquelas brincadeiras com os seus amigos quando de repente ao olhar para o relógio, se deparou com a hora tardia, foi a primeira vez que tal acontecera. De imediato foi a correr a chamar o seu pai pois já estava atrasado e, por certo, ia ouvir ralhar. Ao chegar ao quarto chamou por ele.
- Pai! Acorda, eu esqueci-me de te chamar.
O meu pai olhou para o relógio e disse:
- Meu Deus! Estiveste na brincadeira não foi?
Claramente incomodado respondeu:
- Sim, estive.
Já de saída, e enquanto esperava uma reprimenda que surpreendentemente não vinha, o seu pai voltou atrás aproximou-se e abraçou-o beijou-o na face e para espanto seu ainda esboçou um carinhoso sorriso.
- Até amanhã, filho.
- Até amanhã, pai.
Este foi o dia mais inesquecível da sua vida pois foi a última vez que esteve com o seu pai. No dia seguinte soube que o barco tinha embatido contra uma rocha afundando depois. O seu pai faleceu nesse embate.
Até hoje se pergunta: O que foi aquele esquecimento? Porque não se manteve esquecido?
Porque não deixou que Deus continuasse a atuar? Porque Deus se manifestou deste modo e  não teve capacidade de perceber? Porquê? Porquê?
História que pode pertencer a um qualquer filho de um qualquer pescador.

Paulo Gonçalves

5 comentários:

  1. António Alves04/04/13, 19:36

    Maravilhoso conto. Como sempre muito bem escrito e cheio de imaginação.

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  2. Excelente.
    Parabéns!

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  3. Ricardo Araújo05/04/13, 19:27

    Mais um belíssimo conto que nos leva a viajar para o mundo dos pescadores e das suas gentes.
    Grande trabalho e grande momento justamente quando o mar levou mais uma pessoa em Peniche.

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  4. Mais uma prova deste bom escritor. Bom é pouco, Excelente.
    Já aprendi muito com as tuas partilhas e trabalhos. Já deste, por muitas vezes, forças aos meus dias.

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