segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O POBRE E UM BANCO DE JARDIM

"Mágica Maresia"

    Um pobre solitário, arrastando-se sobre as pernas cansadas, entrou no jardim e estacou em busca do banco, onde habitualmente se deitava. Rasgou um sorriso ao vê-lo ali mesmo na sua frente – exclamou triunfante - Amigo Banco, como folgo olhar-te com uma nova cor decorado. Tenho passado por aqui, mas, o meu lugar estava sempre ocupado!
- Pudera...estava todo desbotado e ressequido do tempo. Agora estou vestido de verde e encarnado, para lembrar o Natal! – Comentou o Banco acrescentando - E os meus pés? hum...É melhor me calar… tão feios e enferrujados! … Alguns que por aqui passavam escarneciam do meu ar cinzento, pontapeavam-me até fazer o pino. Outros, já me viam, com o olhar enfastiado!
 - A quem o dizes, companheiro, – confessou - estou velho e encovado, nem com muita tinta pintado disfarçava os meus oitenta e tal… - Ai, ai … O que mais dói são as dores da alma!
 -Oh velhote diz-me aí! O que são as dores da alma? – Indagou.
 - Tens razão! - És filho de uma árvore. Elas sentem dores físicas; se lhes arrancarmos os ramos, se as cortamos, ou se as inundarmos com matérias nocivas, contudo, alma não têm.
 - Nós, seres humanos; temos alma, e dores que não se vêem, sentem-se, quando o sangue fala mais alto, corre nas veias magoado, e faz estalar o coração.
 -Ah! – Exclamou assombrado - A alma faz isso?!
 - Se faz! … O meu amigo, no fundo é um felizardo! Não tens mãe porque morreu; não foste marcado pela vida, nem pela família esquecido… isso são coisas da alma!
- Pois… dores dessas, não sinto… - Interrompeu num brado!
 -Sobrevives sem alimentos; vestir, calçar ou tomar remédios, e o pior é, onde arranjar dinheiro para os comprar! E o tédio que cresce, quando o dia teima em não querer acabar?! - Insistiu este.
-Dizes bem, velhote. E… o tédio, o que é?
-Oh Banco… Tens lá horas que te sobrem? Ouves e vês tudo o que te rodeia; tens a natureza que te dá a noite, a lua, as estrelas e a luz do sol que irradia em ti as cores das árvores frondosas que te envolvem… - Como saboreava estes momentos! … Acolhes todos os que em ti se acomodam; as crianças que se sentam no teu colo, os namorados que se beijam – Ah! … Que saudades… E as pessoas que como eu, se contentam em repousar o corpo e os olhos… Já viste que até um cão vadio se enrosca em ti se está frio?! - Era feliz então, quando podia ajudar os outros… - Bramia o pobre de lágrima no olho.
 -Então velhote, quer dizer, que eu sendo apenas uns bocados de pau, sou mais feliz que tu!?
É isso mesmo. Porém, eu sei que vou deixar de sofrer… Os sonhos, que acalentei, hão-de realizar-se brevemente!
 - Ah… E os sonhos? … – Murmurou o Banco.
 -Sabes, eu sonhava todas as noites com um anjo que me vinha buscar. Tanto sonhei… que Jesus apareceu numa noite de luar. Leu-me a alma e disse: - “Queres ir para um bom lugar, após o meu aniversário em 25 de Dezembro, voltarei para te levar.” - Disse o pobre com a voz embargada - Por isso, estou aqui hoje, para me despedir de ti, que foste, um bom amigo.
 -Oh velhote será que não vais precisar de levar um banco?! …
-Ah! … Jesus deixou um recado para todos. “Os que quiserem ir para um bom lugar, terão de espiar na terra”, e tu, não tens nada para espiar, nem alma para salvar - Declarou o idoso.
A partir daquele dia, o idoso jamais foi visto no jardim. No entanto, o banco permaneceu no mesmo lugar, esperando a chegada de quaisquer outros Velhotes - dos muitos que povoam a terra - que quisessem com ele conversar.

                                                                                       Raízes M/ Peniche

25 comentários:

  1. Sofia Melo03/01/11, 20:37

    Um história com cheirinho a Natal e muito bem contextualizada. Sem dúvida um presente especial e desejado. Este conto Raízes foi muito pedido e veio em boa hora e a tempo de nos deleitarmos com mais uma história da encantar e emocionar. Está bem construída e cheia de magia natalícia.

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  2. Grande mensagem de amor e de vida. Jesus nasceu e espiemos nós os nosso actos e o que em nosso redor acontece. Não vá a distracção levar-nos para a nossa confortável casa esquecendo o nosso incómodo irmão. Este conto ficou no meu coração que o ansiava por saber que nele encontraria mais uma mensagem de Jesus. Bravo aos que neste Blogue tão bem trabalham e que são os membros de Jesus na terra.

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  3. Poxa Raiz que belissino conto de natal!

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  4. É por estas e por outras que ontem o Blogue esteve em 2º lugar batendo enormíssimos Blogues do mundo inteiro. Hoje está em 3º. Este conto muito bem contextualizado oferece-nos uma história magnifica de um belíssimo imaginário de Natal. Parabéns pela magnifica obra.

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  5. Margarida Rebelo03/01/11, 21:20

    Lindo conto de Natal. Imaginação é o que não falta neste Blogue. Este conto Raízes complementa-se com a qualidade enormíssima, deste site. Dá gosto ler coisas tão bem escritas e imaginadas. É uma maravilha deslizar os olhos por tão boa leitura. São momentos como este que nos fazem sonhar e esquecer as maleitas da vida.

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  6. Emocionei-me com este conto.

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  7. António Alves04/01/11, 20:28

    Um conto que me encanta e me faz ter saudades do Natal. Oxalá o ano passe rápido para voltarmos a ter esta magia de Natal. O blogue superou, nesta quadra, todas as expectativas. Para quem achava que depois do Natal 2009 isso era impossível, este ano a resposta foi bem clara.

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  8. Esta é mais uma pérola deste site. está mais que bonito e é de uma envolvência tamanha, que me transportou ao imaginário deste Natal. Uma história cheia de ternura e magia que me envolveu a alma. Quando o escritor é bom até os bancos se enchem de vida e olhem que acreditei mesmo na vida do banco, por isso é sinal que está mais que conseguido.

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  9. Carlos Viriato04/01/11, 20:33

    Aprazível e cheio de ternura é um conto que fica no goto. Parabéns pela magnifica envolvência que está tão bem conseguida. Tudo em equilíbrio sentido e sentimento.

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  10. Ligia Martins05/01/11, 19:17

    Lindo conto.

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  11. Sem dúvida momentos como estes são inesquecíveis. Adoro desfrutar disto

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  12. Amar a Deus05/01/11, 19:22

    Aquele banco de jardim, sem alma como tantos outros, somos nós como tantos que por este mundo vagueiam em busca dessa alma ou da sua salvação. Por meio de uma vida pobre de espírito a alma vai se perdendo e depois resta a miséria humana. este conto é uma expiação a todos nós que sucumbimos à solidão porque não conseguimos encontrar a luz do Natal que é Nosso Senhor Jesus Cristo. Eis um conto de eleição e que tem tudo a a ver com o espírito deste Blogue.

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  13. João Bastos05/01/11, 19:27

    Quanta solidão no jardim, nas casas, nos lares. Quanto abandono! Quanto lixo humano que a sociedade teima em incutir que não vale para nada. Outrora valeu, agora é lixo simplesmente. Arrecadamos o que não queremos ver e escondemos na alma a amor recebido mas que não lhe damos importância porque prima o egoísmo e parece mal e sendo contraproducente misturar juventude com velhice. Ai homem de Deus esqueces que também tu, um dia, serás velho e irás ser arrecadado. Lembro o fabuloso conto do Manto. Grande Paulo, Grande Raízes. Vocês fazem-me chorar perante estas verdades da vida que tão bem expõem aqui.

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  14. Adorei este conto.

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  15. Mais uma história que me deixou sem palavras.

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  16. Conceição Simões05/01/11, 19:29

    Merece estar em primeiro no top do Blogue. Está lindo!

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  17. Como sempre, espetacular.

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  18. GOSTEI MUITO DESTE TRABALHO.

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  19. Lindo conto de Natal em pleno dia de Reis.

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  20. Ai Raízes como gosto dos teus lindos contos!
    Continua e podes ter a certeza serei teu fiel leitor. Este Blogue alegra os meus dias e é companhia constante.

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  21. Um grande bravo aos comentários!!! Estão muito dignos. O conto merece.

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