quarta-feira, 23 de maio de 2012

A PESCARIA


“Mágica Maresia”

Estava um belo dia de Sol. O chilrear dos pássaros denotava a estação que se vivia. O aroma do campo chegava a si em forma de desafio. Podia vislumbrar pelas cortinas o doce balancear das folhas do vasto arvoredo que era imensidão. O vermelho e branco do prado deixava antever uma diversidade de flores campestres. A casa de montanha confundia-se e embrenhava-se na esplêndida paisagem.
 Levantou-se e dirigiu-se para a cozinha para tomar a sua primeira refeição.
- Vou mesmo trazer aquele peixe enorme. Vai ser hoje!
Joaquim resolveu aproveitar o dia ao máximo, fazendo o que mais gostava, pescar.
Entre assobios e pequenos cânticos, lá foi todo satisfeito para o lago. O seu entusiasmo era regado de perfumes, cor e raios de sol.
Ao chegar deparou-se com um seu vizinho, Mário, com o qual nunca simpatizou, e que chegou um pouco antes de si.
- Bom dia! Disse o seu vizinho.
- Bom dia! Respondeu de forma rude.
- Hoje vou pescar um daqueles…
- Acho que eu é que vou! Retorquiu o Joaquim, reforçando a sua antipatia para com o seu colega.
A pescaria assim começou e a espera foi longa. O Joaquim congratulava-se pelo facto de as águas límpidas do rio não ofertarem nada ao seu vizinho.
- Eh! Eh! Não hás-de conseguir nada! Ou não me chame Joaquim!
Por fim a cana deu sinal e o Joaquim já gritava de felicidade.
- É agora! É agora!
Mas qual não foi o seu espanto, quando olhou para o seu lado esquerdo, verificou que se passava o mesmo com o seu vizinho.
- Não acredito!
Ficou ainda mais desiludido ao verificar que as suas sedas se tinham juntado e que o peixe vinha agarrado às duas.
-Desculpe mas o peixe é meu! Disse o Joaquim.
- Olhe que não! O peixe também me pertence, está agarrado à minha cana!
- Não me provoque! Eu cheguei primeiro!
- Não me provoque você! Dividimos o peixe a meio! Retorquiu Mário.
- Nem pensar! Dê-mo!
E dizendo isto deu um forte puxão na cana que originou a queda do peixe na água do rio.
Os dois ficaram revoltados.
-Veja o que fez! A culpa é sua! Seu… Disse o Joaquim.
-Não! Não tive culpa nenhuma! E dizendo isto resolve ficar calado, continuando, pensativo, a pescaria.
Passados alguns minutos o Mário pesca um peixe enorme que se apressa em retirar da seda.
O Joaquim pensava: “Não é justo. Queria pescar e por causa deste sujeito fiquei sem o peixe e agora ele apanhou um! Deve estar todo feliz da vida a gozar comigo. Que ódio!”
Entretanto o Mário aproximou-se com o peixe na mão e disse:
- Olhe, eu nem sequer gosto muito de peixe, por isso ofereço-lhe.
O Joaquim olhou-o estupefacto.
- Mas porque faz isso? Eu vou pescar um com toda a certeza!
- Aceite por favor. Não me trás felicidade levar este peixe para casa, sabendo que o meu vizinho o queria para si. Ainda por cima só o pesquei por desporto. Tome! Disse entregando-lhe o peixe.
O Joaquim olhou estupefacto para o seu vizinho. A ganância e o egoísmo são inimigos da convivência. A partilha mostra o quanto é bom dar e conviver com o nosso semelhante.
Dando se recebe e quem recebe tem sempre algo para dar.

Paulo Gonçalves

28 comentários:

  1. Tiago Araújo23/05/12, 18:57

    Que grande lição de vida.
    Excelente trabalho que nos faz verificar a nossa ganancia.

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  2. Excelente e maravilhoso conto!
    Como sempre, divinal.

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  3. António Alves23/05/12, 19:02

    Um primor de trabalho que nos leva a refletir na nossa mais pura essência. tendo a máxima permanente de querer tudo para nós. Está supremo em mensagem, escrita e conteúdo. Parabéns!

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  4. O homem vivência na sua vida, quase sempre o ter e esquece o ser. O Mário desta história, mostra-nos o real valor do ser. Esta vivida de forma inesperada. O Mário é o autor e o Joaquim também o é, tal como todos os aspectos e originalidade da história. Neste conto estamos todos nós num fantástico embrulho de bom gosto, boa escrita, bom português e de um excelente momento que nos faz reflectir no que somos e no que realmente deveríamos ser!

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  5. Olga Peixoto23/05/12, 20:38

    Lindo trabalho.

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  6. Grande trabalho.

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  7. Que grandeza de conto. Legal!

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  8. Muito bonito e bem escrito.

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  9. Sofia Melo25/05/12, 17:27

    Quero expressar o meu contentamento em relação ao conto. Este trabalho transmitiu-me Primavera, frescura, simplicidade e coerência. O texto está apuradamente escrito, aliás como já nos habituou o autor, tendo uma leveza e clareza em relação ao compromisso de vida e sentimento humano muito comum a nós. É uma lição de vida cheia e que me envolveu muito positivamente. Excelentemente bem pensado e tendo em conta a época e a vivência atual.
    Muito bom.

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  10. Esta pescaria está um autentico espelho humano. Maravilhoso.

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  11. Como eu gosto destes contos da mágica maresia. É mesmo mágica. Como é bom navegar numa escrita tão deliciosa e que encanta na forma e conteúdo. Mais uma lição que nos mostra o quanto é importante ser, e não tão importante o ter. Grande momento que nos leva a ler e a gostar cada vez mais de ti.

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  12. Margarida Rebelo25/05/12, 17:28

    Palavras soltas que dizem tanto e que se combinam num teste que é gesto com um ao ser humano. Sábia lição, que mostra claramente e genialmente o que somos, pensamos e vivemos.
    Belíssimo trabalho.

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  13. Carlos Miranda25/05/12, 17:29

    Por falar em contos, eu estive a reler todos e verifiquei que existe um crescendo de ideias e qualidade. Como se tem marcado este canto com histórias únicas, belas e de uma grandiosidade extrema. Só me posso sentir feliz por ter descoberto este blog e de nunca o abandonar. Sendo seu fiel seguidor, aprendi que dos pequenos momentos se fazem os grandes e naquele momento em que parei para absorver este blogue me apercebi da sua dinâmica que me levou a crescer com ele e a absorver muitos dos seus ensinamentos.
    Este conto está divino e encheu-me a alma com um cálido bem-estar. Reflexão pura, construtiva e do mais belo que existe.

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  14. Mais um sopro de verdadeiro e real português. Mais uma história que parece vir de um qualquer grande escritor conceituado e que nos inebria em magia. Com construção humana, narrativa soberba e exemplar. É um conto sublime, aliás como tantos outros que por aqui já passaram (Já são mais de 25). Este conto é uma grande lição para os nossos comportamentos, espelho da alma humana. Está belíssimo!

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  15. Carlos Viriato25/05/12, 17:29

    Nós somos assim e nunca percebemos nem aceitamos o que poderá ser inconveniente, de imediato, e positivo no futuro, para nós. O ser humano dá, de imediato, voz ao egoísmo sem pensar no outro e isso acontece, claramente, aqui.
    Grande momento que é espelho para nós!

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  16. Cordeiro Paiva25/05/12, 17:30

    Continuo a dizer que tenho encontrado trabalhos de suprema qualidade, inúmeros, que vou descobrindo neste Blogue, a cada dia que passa. Este conto de Paulo Gonçalves é mais um que me deixou emocionado e me deu um prazer enorme ler, eu estava naquele lago pois tens a capacidade de nos transportar aos locais do teu imaginário. Parabéns pelo magnífico trabalho.

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  17. Olga Cardoso Cunha25/05/12, 17:30

    Mais um excelente conto que é uma maravilha para os olhos de quem o lê.
    Sem dúvida que o autor nos merece esta leitura pois supera em qualidade, exigência e inteligência. Volto por isso a dizer que é linda, a corrente de carinho que se gerou à volta deste Blogue e é impressionante como o autor a tem conseguido segurar ao longo do tempo. Prova de um trabalho com amor e constante na persistência, este conto é bem prova disso. Por isto e por tudo o resto os meus mais sinceros parabéns!

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  18. Suzana Burrujas25/05/12, 17:31

    Mais um clássico para a Mágica Maresia” e é mesmo mágica esta maresia fresquinha, tão cheia de excelentes trabalhos. Este conto, muito bem pensado, traz-nos aquilo que somos como humanos, queremos tudo para nós e nada para os outros. Se pensássemos um pouco mais nos outros o mundo seria bem melhor e é esta a mensagem do texto. BRILHANTE! É urgente descobrir o amor e a amizade. Adorei!

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  19. Carlos Tiago25/05/12, 17:31

    Neste conto eu sou o Mário mas também o Joaquim, mas também sou tudo nele porque me faz rever o que sou. Eu sou assim…infelizmente para mim. Mérito do autor que consegui espelhar a minha maneira de ser em mim próprio.
    Grande conto! Disse-me bastante!

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  20. Ermelinda Sales25/05/12, 17:32

    Vou repetir o que disse no anterior conto porque se aplica na perfeição.
    Olha Paulo tu és um mimo!
    Um mimo que nos foi oferecido! Caído do céu! E que insiste e ainda bem que insiste, em oferecer-nos pedacinhos desse teu lindo céu! É tão bom experimentar o teu mundo que encanta e não nos deixa sair dele porque de tão belo nos prende como nos prende o amor de Deus! Por favor nunca pares de transmitir dessa maneira que tem um não sei quê que só os especiais contêm, por isso continua e um grande parabéns!

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  21. Gostei deste conto pois dá-nos a certeza de que somos tão imperfeito e diz-nos de forma a refletirmos.

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