O CARACOL
Andava
pachorrento e entediado, o caracol. O chuvisco, que tanto desejara,
irritantemente, continuava a cair. As gotas, que das árvores escorregavam,
produziam um som que lhe deixavam algo chateado. Tudo permanecia calmo demais.
Nem das suas companheiras formigas, sinal havia. Olhou aborrecido para o céu
com ar bem chateado e resolveu subir por um verde tronco de um vulgar caniço
igual a tantos outros, muito embora este lhe parecesse mais elevado, ou não
fosse tão sério o assunto que tinha para tratar com aquela nuvem tão chata.
Lá foi subindo
a passo de caracol e muito esmerado em bater um recorde, dada a urgência que
advinha da situação.
Chegado ao
topo, olhou para o céu e não se deteve em contemplações.
- Olha lá ó
nuvem, não achas que já basta?! – Interrogou demonstrando todo o seu desagrado,
ao que a nuvem respondeu…
- Já basta o
quê?
- De pingo
mais pingo. Já chega! É que não passa disto. Porque não te vais embora e nos
descobres o sol?
- Ora! Ora!
Primeiro pedias chuva e agora queres sol, afinal o que queres, sol ou chuva?
- Não sejas
parva. Já há dias que pairas sobre nós e tudo o que é demais enjoa.
- Qual é o
teu problema?
- O meu
problema é a solidão. Por causa dos teus pingos ninguém sai dos seus abrigos e
eu não tenho com quem falar. De resto já aborrece ver tudo sempre tão molhado.
- Humano?! Por
que motivo, me fazes essa traumatizante comparação?
- É simples
meu caro! Nunca estás satisfeito com nada. Se não chove, é porque não chove! Se
chove é porque chove! Nunca estão satisfeitos com nada, mesmo que esse nada
seja o melhor para eles. Sabes, estes seres nunca percebem nada e tudo para
eles é complicado e sinónimo de insatisfação e infelicidade. Nunca dão valor ao
que a vida contém.
O olhar do
Caracol deixava agora, transparecer alguma desconcertação.
- E tu achas
que eu sou assim?
- De certa
forma sim! Não estás a entender o meu papel, a minha missão.
- Sim, já
percebi!
- Estou aqui
o tempo que for preciso. Tenho que regar os campos e esperar pelo vento pois é
ele que me vai transportar para outro lugar. Por acaso achas que eu também não
me aborreço de permanecer tanto tempo por aqui?
O Caracol
baixou a cabeça envergonhado.
- Nunca
tinha pensado nisso.
- Pois, eles
também não pensam. Logo que venha o vento partirei e vos deixarei o sol.
- Sabes,
agora acho que já desejo que fiques. Conversaste comigo, fizeste-me companhia e
isto já não será o mesmo sem ti.
- Não te
preocupes, volto sempre nos Invernos e colocaremos a conversa em dia.
De repente
os caniços abanaram. O vento levantara-se. O sol começou a romper.
O caracol
olhou de novo para a sua amiga que lhe gritava.
- Adeus
amigo. Chegou a hora da partida, vou conhecer outros lugares. Gostei de te
conhecer. Tem cuidado e fica sempre feliz. Volto no próximo Inverno.
- Adeus
amiga. Fico à tua espera.
A tristeza
tinha sido compensada pela certeza de ter ganho uma amiga.
Muitas vezes
achamos que tudo está mal, mas onde o mal está poderemos sempre encontrar algo
de bom. A procura da felicidade é sempre ambição humana, no entanto é sempre
tão difícil reconhece-la em nós e no que a vida nos oferece. Talvez seja um
mito ou talvez seja ignorância nossa.
Talvez…Talvez…
Paulo
Gonçalves
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