O REGRESSO
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QUARTA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2010
A depressão
e a saudade apoderaram-se de mim. As lágrimas, insistentes, rolavam no meu
rosto. A dor tornara-se agonizante e insuportável. Não conseguia mais. Já
tinham passado 50 Anos desde aquele fatídico dia 16 de Junho de 2010. Não suportei
mais a agonia e resolvi dirigir-me ao pai. Tomei então, aquele caminho que à
muito não percorria. Por entre verdes prados, em montanhas de energia, a minha
alma foi inundada de uma calma à muito não sentida. Ao chegar olhou-me como se
já soubesse o que ali, ia fazer. A luz mais brilhante que o sol inundou-me a
alma.
- Pai!
Preciso de te falar!
- Porque
teimas em prender a tua alma ao térreo passado?
- Sinto
saudades da terra, do povo, dos meus pais…dos meus pais…
- Porque
estás assim?! Em breve estarão por aqui.
- Não tenho
mais resistência! Pai! Por favor! Conceda-me uma excepção. Pagarei se
possível…, por amor ao pai. A minha alma mora em ti!
Após breve
reflexão perante tão sentidas palavras, sentiu-se obrigado a ceder forçado pelo
amor ao seu filho.
- Está bem.
Terás uma nova missão em breve.
Amo-te meu
filho!
- Obrigado
pai. Muito obrigado!
Ao proferir
estas palavras vi-me catapultado para um corredor de luz que me era familiar e
que se embrenhou na minha alma. Todo o sentido da minha eternidade estava
naquela luz, por ela fiz-me vida.
As névoas
desapareceram juntamente com a luz. Acordei em pleno largo da povoação.
Abismado reparei em pormenores familiares: A velha torre da Igreja, em pedra e
parcialmente caiada de branco. O soar das Ave-Marias, embora algo diferente e
soando a gravação, ainda acontecia, assinalando o passar das horas. As árvores
estavam completamente ressequidas, as pessoas em situação semelhante, as suas
peles estavam escuras e enrugadas. Os olhos deixavam transparecer uma alma seca
e tristemente marcada pelo desânimo e inércia. O sol era abrasador e
insuportável. Porque estaria tudo assim num local outrora verdejante?
Por ruelas
tão familiares, aproximei-me da minha antiga casinha, outrora embrenhada em
brumas de ilusão e alegria. Estava praticamente em ruínas. Á entrada ainda
existia uma bica tradicional de mármore envelhecido e com rasgos negros que
marcavam a sua, já longa existência. As crianças, mal nutridas, fingiam, nela,
beber água. Tudo estava ressequido. Um forte sentimento de tristeza foi-se
apoderando de mim.
Finalmente
decidi aproximar-me da velha porta de entrada da minha casa e repentinamente
vi-me dentro dela. Entrei em pânico, pois a minha visão ultrapassou a referida
porta sem que desse por isso. Foi uma experiencia pela qual nunca tinha
passado.
Não pude
deixar de reconhecer uma foto, de cor amarelada e ferida em cada mancha pelo
passar do tempo, que estava em destaque na velha parede frontal da sala de
estar. Um menino sorridente e feliz em cima de um cavalo, esse menino era eu. A
emoção apoderou-se de mim. As lágrimas voltaram a rolar no meu rosto. Parecia
ter recuperado o meu coração, pois sentia os seus batimentos.
Com a dor da
minha dor avancei um pouco mais até ao antigo quarto dos meus pais, a surpresa
não podia ser maior. Numa cama de ferro, velhinha e enferrujada, estava
igualmente velhinha, deitada, a minha mãe em aparente estado terminal. Ao seu
lado, na mesinha de cabeceira, uma série de fotografias minhas acompanhadas de
uma empoeirada, imagem de Nossa Senhora de Fátima. Por cima da cama o familiar
crucifixo, companheiro das minhas orações de infância. Bem junto dela e
agarrando as suas mãos, das quais pendia um Terço em vidro azul que me era
muito familiar, pude ver o meu pai. A sua cabeça vestira-se de neve. Nos seus
olhos era visível o espaço ocupado pela tristeza e melancolia de toda uma vida.
Como estavam velhinhos! Como o tempo os transformara. Senti uma enorme vontade
de os beijar, abraçar, consolar-lhes na dor que ficou contida nas suas vidas com
a minha partida…que dor senti naquele momento!
A luz do pai
veio até mim.
- Vai! Vai
para fora, a tua mãe estará em breve na minha morada.
Saí da casa
em velocidade luz até a um campo que foi, noutros tempos, local de
brincadeiras. Apoderou-se de mim uma nova e forte dor. Já não haviam árvores,
relva, flores e água. Tudo estava seco, a cor amarelo-torrado predominava.
A luz
apoderou-se, de novo de mim.
- Vem meu
filho. Tenho uma nova missão para ti!....
Paulo Gonçalves
Foi uma grande prova de fogo. Um sucesso mais que merecido.
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