EUTANÁSIA
Olhava
constantemente para as janelas daquele quarto de hospital. A chuva
insistentemente batia contra os vidros não lhe trazendo respostas. A dor
continuava a dilacerar-lhe a alma. Já passara um Mês desde aquele fatídico dia
em que seu filho sofrera um trágico acidente que lhe roubara tudo. Olhava para
o seu filho que permanecia estático e ligado àquela maldita maquina que o
mantinha vivo. As lágrimas teimavam em rolar-lhe no rosto. Tudo se desmoronara.
Também tinha perdido a mulher e a vida revestia-se de uma dureza impar.
Tinha
chegado o dia de tomar uma decisão. Recordava a conversa que tivera com o
médico e o seu coração não poderia estar mais apertado.
“- Senhor
João, lamento muito mas não podemos fazer muito mais.
- Não posso crer doutor! Não me diga uma coisa
dessas!
- O seu filho está em estado puramente
vegetativo. Não podemos fazer mais nada.
- Não pode ser! Não pode ser!
- Tenha calma. Neste momento vamos mantê-lo
vivo. Dentro de um mês falamos.”
O mês tinha
passado e chegara o dia de tomar uma decisão. Tinha passado todo este tempo em
oração e não vira qualquer sinal de recuperação do seu filho. A dúvida e a dor
permaneciam e interrogavam-lhe constantemente; manter ou não manter a vida?
Prolongar ou
não prolongar o sofrimento do seu filho? Os seus pensamentos foram
interrompidos pela chegada do médico.
- Então
senhor João? Temos que conversar.
- Diga
doutor, mas diga algo que me anime.
- Não posso!
Não posso! Temos que tomar uma decisão. O seu filho está a sofrer e não vai
sobreviver, ele está em puro estado vegetativo. Lamento, lamento muito! Mas
aconselho a desligar as máquinas que o ligam à vida que já não é!
- Doutor
parece-me que um destes dias lhe vi mexer um dedo da mão.
-
Impossível! Por favor tem que ser realista. Não adianta e isto é o que de
melhor pode fazer pelo seu filho. Acredite, ele agradece!
O choro
compulsivo e forte apoderou-se de si. Olhou para uma imagem de Nossa Senhora de
Fátima e interrogou-a:
- E tu?!
Porque não fazes nada!?
Em seguida
olhou para as suas mãos que seguravam um terço, já tão seu companheiro e
implorou;
O médico,
emocionado voltou a insistir.
- Senhor
João, não se desgaste mais. Não podemos fazer nada. É uma situação
irreversível. Sei o que estou a dizer. É urgente para o seu filho e para si que
mude a página. Já basta de sofrimento.
Olhou cheio
de amor, fixamente para o seu filho e de novo para a imagem de Nossa Senhora de
Fátima ao mesmo tempo que apertava o terço em suas mãos.
- Já tomei
uma decisão!
O médico
suspirou de alívio.
- Vamos
então desligar?
- Nada
disso! Não vou matar o meu filho! Entrego essa decisão nas mãos de Deus!
O médico,
surpreendido e algo desiludido, respeitou a vontade do pai.
Cinco anos
depois
“Testemunho
de um pai feliz”.
Quanto me
sinto feliz por ter tomado aquela decisão. Na hora em que apertava o terço foi
o que senti que fez com que a tomasse. Duas semanas após a decisão, o meu filho
começou a mexer os dedos, contrariando todas as previsões. De imediato começou
a fisioterapia e hoje fala, já anda e faz uma vida normal. Faltam apenas
pequenas correcções a alguns movimentos.
O meu filho
é-me muito grato por lhe ter salvado a vida. O médico perguntou-me o que me fez
tomar aquela milagrosa decisão pois resultou numa cura sem explicação. Eu
respondi-lhe:
Naquele
momento aceitei e entreguei tudo nas mãos de Deus, a partir daí a obra foi
dele.
No entanto,
nele eu confiei e comprovou-se todo o seu amor pois soube dar-me o
discernimento para não tomar a decisão mais fácil e perceber que a vida é-nos
oferecida e que sobre ela não temos qualquer poder.
Não
escolhemos nascer. Não escolhemos morrer e nem sequer num simples cabelo branco
que vem, temos qualquer tipo de decisão. A vida é um bem precioso e nela está
contido o amor que o pai tem por nós. Acabar com a vida é matar o amor que o
Pai tem por nós!
Conto criado
por mim e baseado numa história real.
Paulo
Gonçalves
Maravilhoso.
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