O Cristo Ressuscitado
Não era um dia como tantos outros, no
Museu Nacional. Esperava-se uma grande azáfama pois tinha sido recebida a
magnífica obra que tinha ganho o prémio do ano, e que passaria a estar exposta
por oferta do seu criador.
Raul jamais pensara que aquele Cristo
Ressuscitado lhe devolvesse o reconhecimento do público numa hora tão difícil
da sua vida. A doença da sua filha tinha sido ultrapassada e como agradecimento
nasceu no seu âmago, a vontade de criar uma escultura do Cristo Ressuscitado.
Em tons de esperança, de braços
abertos, expressão de ternura e com olhar de uma felicidade vitoriosa, suscitou
as mais variadas atenções, conquistando assim, o prémio mais desejado e que
inundou o seu criador de felicidade.
A cerimónia de apresentação da obra
decorrera da melhor forma possível. Muito público, ávido de conhecer esta, tão,
famosa obra.
Dia após dia o seu autor dirigia-se
ao Museu, nunca esquecendo de visitar o motivo do seu contentamento. Era sempre
recebido com um simpático sorriso.
- Bom dia Jerónimo. Cá estou de novo.
- Bom dia Sr. Raul. Nunca esquecemos
os nossos filhos. Retorquiu o porteiro do Museu.
Aproximando-se do seu Cristo,
mantinha diariamente, um diálogo com ele.
- Olá meu amigo. Aqui estou de novo.
Não posso deixar de te visitar, minha obra muito amada! Se pudesse, levava-te
comigo, mas seria egoísmo meu, privando os outros de te visitar. Sei que ficas
feliz por me ver e sei que isso significa para ti, ausência de esquecimento.
O Cristo parecia transparecer contentamento
por não ser esquecido pelo seu criador.
Com o passar dos anos, as visitas de
Raul foram-se tornando menos assíduas. Primeiro passou a visitar a sua obra dia
sim, dia não, e depois o espaço de tempo entre as visitas foi-se alargando. As
imponentes escadarias do Museu não eram possuidoras de contemplação para com o
avanço da sua idade. As árvores, outrora mágicas de cor e libertação de
perfumes inesquecíveis, hoje pareciam-lhe pesarosas e algo rudes, trazendo-lhe
duras saudades da sua juventude.
Um certo dia, já muito cansado,
abeirou-se tristemente da sua obra.
- Meu caro e fiel filho muito amado.
Estou vencido pelo cansaço. Sei que tenho vindo menos vezes, sinto-me sem
forças. É difícil chegar até aqui. Não fiques triste! Quero que saibas que foste
muito importante para mim e que nunca te esquecerei. Quanto ao resto sei que
continuarás a ser visitado e amado por todos e que jamais te poderei agradecer
por continuares a divulgar o meu nome. Sentirei saudades de ti, afinal eu
partirei e tu ficarás sempre!
Cambaleando e com dificuldade
conseguiu abraçar-se à sua obra perante o olhar comovido do porteiro.
Os dias foram passando e Raul não
mais voltou ao Museu. O Cristo permaneceu de braços abertos impávido e sereno,
muito embora, com uma aparente tristeza. Talvez com saudade do seu dono que
nunca mais o visitou, talvez sentindo que o que nos faz felizes é o laço que
nos prende e amarra ao nosso próprio criador.
A vida vai passando e as nossas obras
ficam. O espelho das nossas vidas e o que resta delas é
aquilo que fomos e que deixamos como recordação.
Se fizeste uma boa obra deixaste uma
marca positiva para todo sempre.
Se criaste no amor, o teu amor
prevalecerá!
Para sempre seja louvado o amor
deixado pelo nosso criador! Revendo-se em felicidade, Jesus Cristo! Nosso
Senhor.
Maravilhoso. Fez-me chorar. Lindo.
ResponderEliminarGostei muito. Está muito bonito e real. É um conto cheio de imaginação e comovente.
ResponderEliminarLindo.
Muito bonito.
ResponderEliminarExcelente conto. Amei!!!
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