sexta-feira, 11 de abril de 2014

MOMENTOS PENICHE LIVRE

O Cristo Ressuscitado

Não era um dia como tantos outros, no Museu Nacional. Esperava-se uma grande azáfama pois tinha sido recebida a magnífica obra que tinha ganho o prémio do ano, e que passaria a estar exposta por oferta do seu criador.
Raul jamais pensara que aquele Cristo Ressuscitado lhe devolvesse o reconhecimento do público numa hora tão difícil da sua vida. A doença da sua filha tinha sido ultrapassada e como agradecimento nasceu no seu âmago, a vontade de criar uma escultura do Cristo Ressuscitado.
Em tons de esperança, de braços abertos, expressão de ternura e com olhar de uma felicidade vitoriosa, suscitou as mais variadas atenções, conquistando assim, o prémio mais desejado e que inundou o seu criador de felicidade.
A cerimónia de apresentação da obra decorrera da melhor forma possível. Muito público, ávido de conhecer esta, tão, famosa obra.
Dia após dia o seu autor dirigia-se ao Museu, nunca esquecendo de visitar o motivo do seu contentamento. Era sempre recebido com um simpático sorriso.
- Bom dia Jerónimo. Cá estou de novo.
- Bom dia Sr. Raul. Nunca esquecemos os nossos filhos. Retorquiu o porteiro do Museu.
Aproximando-se do seu Cristo, mantinha diariamente, um diálogo com ele.
- Olá meu amigo. Aqui estou de novo. Não posso deixar de te visitar, minha obra muito amada! Se pudesse, levava-te comigo, mas seria egoísmo meu, privando os outros de te visitar. Sei que ficas feliz por me ver e sei que isso significa para ti, ausência de esquecimento.
 O Cristo parecia transparecer contentamento por não ser esquecido pelo seu criador.
Com o passar dos anos, as visitas de Raul foram-se tornando menos assíduas. Primeiro passou a visitar a sua obra dia sim, dia não, e depois o espaço de tempo entre as visitas foi-se alargando. As imponentes escadarias do Museu não eram possuidoras de contemplação para com o avanço da sua idade. As árvores, outrora mágicas de cor e libertação de perfumes inesquecíveis, hoje pareciam-lhe pesarosas e algo rudes, trazendo-lhe duras saudades da sua juventude.
Um certo dia, já muito cansado, abeirou-se tristemente da sua obra.
- Meu caro e fiel filho muito amado. Estou vencido pelo cansaço. Sei que tenho vindo menos vezes, sinto-me sem forças. É difícil chegar até aqui. Não fiques triste! Quero que saibas que foste muito importante para mim e que nunca te esquecerei. Quanto ao resto sei que continuarás a ser visitado e amado por todos e que jamais te poderei agradecer por continuares a divulgar o meu nome. Sentirei saudades de ti, afinal eu partirei e tu ficarás sempre!
Cambaleando e com dificuldade conseguiu abraçar-se à sua obra perante o olhar comovido do porteiro.
Os dias foram passando e Raul não mais voltou ao Museu. O Cristo permaneceu de braços abertos impávido e sereno, muito embora, com uma aparente tristeza. Talvez com saudade do seu dono que nunca mais o visitou, talvez sentindo que o que nos faz felizes é o laço que nos prende e amarra ao nosso próprio criador.
A vida vai passando e as nossas obras ficam. O espelho das nossas vidas e o que resta delas é aquilo que fomos e que deixamos como recordação.
Se fizeste uma boa obra deixaste uma marca positiva para todo sempre.
Se criaste no amor, o teu amor prevalecerá!

Para sempre seja louvado o amor deixado pelo nosso criador! Revendo-se em felicidade, Jesus Cristo! Nosso Senhor.

4 comentários:

  1. Luisa Freitas11/04/14, 20:46

    Maravilhoso. Fez-me chorar. Lindo.

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  2. Gostei muito. Está muito bonito e real. É um conto cheio de imaginação e comovente.
    Lindo.

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  3. Joana Fonseca11/04/14, 20:47

    Muito bonito.

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  4. Excelente conto. Amei!!!

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